sexta-feira, 8 de novembro de 2013

Perto e distante

Neste preciso momento da vida, sinto que perdi o controlo de mim, ou aliás, perdi a noção de quem sou ou fui. Quando amamos incondicionalmente, é este o risco a que nos subtemos, ainda que inconscientemente. Nunca pensei que a pior das auges da saudade fosse aquele quando a pessoa está perto.
O que mais me magoa ao amar-te, é idealizar de olhos fechados e bem acordada, aquilo que gostaria de realizar contigo. Fecho os olhos novamente, e também tenho consciência que o pretérito da nossa história, se transformou num tesouro que guardo e certamente guardarei sempre comigo, no mais íntimo de mim. Mas e o que não consigo construir a teu lado? Esse desejo imbuído agora numa angústia profunda, que me entristece, me mata por dentro, aos poucos.
 Sei que não és rapaz que dá valor a palavras, demonstras o que sentes nos gestos diários, contudo, por vezes, sinto necessidade de deixar palavras ao vento, para que tu as juntes, construas uma frase ou um texto, e decifres o que nelas está imbuído. Procura-as, assim, eu regressarei até ti, sempre.
Sempre fui miúda de odiar monotonias, contudo, contigo aprendi a gostar até da rotina a teu lado,  mas só quando ela é bem vivida.
A noite já se faz mais depressa e com ela chegam as nuvens da minha opressão. Sinto frio. Sinto-te distante. Observo a janela, o sol começa a pôr-se, a multidão silencia-se entre as calçadas de Évora. Está na hora de partires. Está na hora de ires trabalhar. Habituaste-me a adormecer a teu lado. Hoje, acordo quando tu tens quase embalado no teu primeiro sonho. A minha noite virou o teu dia, a tua noite tornou-se no meu dia. Toco na tua almofada e penso que estás ali para ver se consigo adormecer sem tomar mesmo consciência disso. Coloco-me em posição de “conchinha”, tal como dormíamos, e quando chegas me agarras. Sonho com os momentos que quero viver a teu lado. O teu cheiro imbuído nos nossos lençóis virou o perfume que me embala para o mundo dos sonhos…talvez ai te volte a reencontrar…
A lágrima inconsciente escorre por esta minha face ultimamente mal-encarada. O coração soluça de saudade. A alma querer a tua presença, o teu carinho. Sinto saudades de ti. Sinto falta dos momentos em que nos perdíamos nos braços um do outro. Sinto saudade de quando os olhos começavam a pestanejar, o sono a chegar quando via filmes contigo e me dizias: “aguenta mais um pouco, amor!”, ouvindo a tua voz, segura, protegida, adormecia no teu colo e depois era por ti levada ao colo para o nosso ninho-de-amor. Sinto simplesmente saudade de ti.
Mas o tempo passa… a noite vira dia…os primeiros raios de sol fazem-se sentir na janela do nosso quarto. O despertador toca, é sinal de um novo dia. Sem vontade, levanto-me e aconchego-te nas nossas mantinhas, despeço-me suavemente com um beijo enquanto tu dormes e te colocas a jeito para te tapar com mais uma mantinha.
Tenho-te comigo mas não te sinto. Sei que as tuas atitudes por vezes nem são intencionais, mas elas fazem-me deliberar se viver assim será saudável? Há momentos que sinto que preferiria estar sozinha, sem ti, do que viver assim. E este pensamento atormenta-me.
Quero-te dizer todos os meus medos, todos os meus pontos-de-vista sob toda esta situação que anda há meses a maltratar o coração. Mas a voz cala-se dentro dele. Aconchega-se. E quando explode? Não constrói a frase como penso mesmo, saí num modo automático, de maneira explosiva. Ai, as nossas vozes misturam-se, por vezes, num tom elevado, mente-se pois dizemos coisas que não se sente. E agora? Diz-me, onde vamos nós parar assim?
Não te quero colocar entre a “espada-e-parede”, não te quero mudar e obrigar comigo a sempre estar, mas queria que pela primeira vez, ouvisses alguém, que percebesses que se prosseguires desta forma egoísta, talvez me irás perder…e se perderes é para sempre.
Já vivemos debaixo do mesmo tecto, juntamos as escovas-de-dentes, e? Já não temos o que tínhamos e não culpo a questão de vivermos no meu “metro-quadrado”, mas sim, por não compreenderes nem fazeres um esforço para tal. Percebe, que… vivo contigo mas tenho saudades de ti. Percebe… que tenho saudades dos nossos momentos só nossos…e não de ter apenas 5 minutos… percebe que… tenho saudades de adormecer a ouvir a chuva a teu lado, de cear às tantas depois de uma “sessão pipoca”, de passear de mão dada nem que fosse para ver as montras… Se eu pudesse? Tinha-te sempre em meus braços…é no teu abraço que suporto o Mundo.
Estás comigo, mas… eu quero-te de volta… vou sonhar que esta tua “ausência” seja somente uma etapa e que juntos, com muito diálogo, muito amor e compreensão vamos superar. Agora? Resta-me aguardar a tua decisão, ou continuamos juntos ou então cada um que siga seu caminho e de vez…Se ficar parada, silenciar, também será uma acção. Estou imensamente entristecida de dar e não receber reciprocamente, embora receba não é o suficiente. Não vou mais lutar pelo teu carinho, pelo teu tempo, apesar de reconhecer que tenho o teu amor.
Aprende que não podes deixar a vida, o tempo e as circunstâncias decidirem por ti. Não podes continuar como até aqui, (se queres continuar a meu lado), aprende que há coisas que só dependem de ti, que não podes deixá-las ao sabor da corrente. Entende-me como um rio. A água pode passar e tu pensas que passa precisamente pelo mesmo lugar. Mas estás enganado… as correntes mudam, ela não é a mesma que passa, portanto, agarra pela última vez esta oportunidade que te concebo…chega de remar contra a maré, de naufragar em pensamentos… tu és o meu porto-de-abrigo, mas não é assim neste barco de amor que pretendo seguir viagem…
A tua maior dificuldade é dares mais de ti, aprenderes que quando se ama, dois corações se tornam num e a entrega tem que ser total, dar e receber tornam-se num acto genuíno. Aprende que quando se quer, arranja-se sempre tempo. Se quiseres és capaz de virar uma segunda num sábado. Que mesmo que não sejamos românticos, o amor ensina-nos a sê-lo espontaneamente. Que mesmo que sejamos frios, somos capazes de ser a pessoa mais sensível do Mundo. O amor requer entrega por ambas as partes, não é dar sem receber. Todo o coração gosta de sentir o calor da pessoa que ama perto e ninguém nem mesmo tu, foges à regra.
Sei que no fundo…estás a meu lado… o pior é quando olho e não te vejo, vejo-te e não te sinto. Mas sei que estás…
Sempre fui miúda de responder, contudo, confesso-te…que contigo aprendi que é necessário em certos momentos ouvir e não responder, mesmo que o coração não reconheça as palavras proferidas, os lábios devem-se selar. É necessário, camuflar na mente, o que mais queremos demonstrar. Há instantes que o silêncio se torna no único texto que sei escrever, ainda que em modo pensamento. Porém, chegas ainda assim, a não conseguir decifrá-lo ou mal interpretá-lo. Por vezes, é preciso aguardar que as circunstâncias delimitem o momento “ideal” para pronunciar as ideias, fruto da cabeça e não dos impulsos do coração, e ai, sim, descrever pormenorizadamente as nossas concepções e ópticas, deixar tudo como a água, em modo de transparência, para que não constem mais incertezas ou pujança nas palavras ditas. E mesmo que a voz estremeça no íntimo, ela tem que se tornar actriz de imediato, ela será a protagonista da resolução ou desfecho de uma história. Há que avassalar o coração, as suas pulsações não se podem ouvir no exterior. Por mais que o desejo seja de desprezar a conversa séria, ele tem que obedecer, não pode fazer alaridos, ficar guardado enquanto a voz se faz ouvir num palco de olhares transparentes e respirações profundas.
Hoje, escrevo para ti…não com a concepção que leias estas palavras e escutes baixinho a minha voz. Escrevi por necessidade, porque o que sinto já não me cabe mais no peito. Escrevo pela primeira vez na vida, com a maior das maiores das dificuldades… pois é para ti…a pessoa que me conduziu para o sentimento mais avassalador do universo, o amor. Hoje, as palavras parecem não formarem mais um texto, um dos meus desvaneios loucos, não conseguem encadear-se numa frase, numa sequência lógica, e porque? A mente está assim, desarrumada, desajeitada, alterada. Escrevo para aliviar a minha alma e não para atingir o teu coração.
O coração pela primeira vez verdadeiramente viajou para fora do peito, está embalado num desejo de ser feliz e de te fazer feliz.

Apesar de juntos, estamos separados. Apesar de perto, sinto-te longe. Apesar de te amar, sinto-me com vontade de desistir.

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