quinta-feira, 1 de março de 2012

Cicatrizes


       Sinto saudades daquela lagoa-azul que foi palco dos nossos encontros proibidos, daqueles campos verdes que foram cenário de piqueniques, daqueles passeios apaixonados que conheciam a moldura do pôr-do-sol, do teu toque delicado nos meus cabelos, da ternura com que me puxavas para mais perto de ti, do teu abraço apertado e caloroso que me fazia sentir protegida e amada, do sabor dos teus beijos, do quadro dos teus olhos com o meu rosto. 
         A cromática dos teus olhos sempre foi e sempre será a minha perdição, pois neguei-te inúmeras vezes com voz firme que o teu nome se tinha transformado num verbo que conjugara agora no pretérito perfeito, porém, os olhos são o reflexo da alma e o espelho do coração, nunca te o negara nesses teus olhos verdes colossais. No fundo, tu sabes,  esforcei-me e dei tudo de mim, cometi erros conscientes e pronunciei palavras que não sentia de verdade, mas tudo, por te amar demais, de uma forma extremamente incondicional. 
         Guardei as cartas, as fotografias e tudo o que me fazia lembrar a nossa história no baú das recordações, fechado a cadeado tal como o meu coração ficou desde o dia que decidi uma vez mais arrancar-te bruscamente e da forma mais radical e egoísta dentro de mim.  
         O teu nome ficou gravado em mim tal como uma tatto - para sempre. E parece absurdo mas sinto que o teu nome só será desgravado se em vez de fazerem uma cirurgia à pele, fizessem ao coração. 
         Só sei desnudar a minha alma por escrito e nem isso tenho conseguido ultimamente, embora saiba que isso não muda nada mas apazigua esta dor de pensar , este sofrimento de sentir, esta saudade das tuas memórias.
         Agi com uma criança que quando caí e faz ferida, qual é a tendência? Arrancar a caspinha da ferida. Embora doa, ela quer tirá-la. Tal atitude infantil tive eu. Tentei outra vez, tirar-te dos meus sonhos, acreditar que não eras o príncipe-encantado e que não era contigo que idealizava o futuro. Arranquei a caspa. Sangrou. Tapei-a com um penso, colocando-me nos braços de uma pessoa que tentei entregar-me como a ti. Essa ferida, parecia estar sarada. Coloquei-a ao vento, esse ar fresco tocou nela e foi fechando-a aos poucos. Mas .. toda a ferida profunda, deixa cicatrizes (...) 

4 comentários:

jo disse...

Que lindo texto. O incrivel é como um coração magoado consegue juntar palavras desta maneira: maravilhosa. Um beijinho

Dani disse...

adorei o texto,
e esse filme é lindo!

Javier Muñiz disse...

Hola, concisas y precisas letras desnudan a golpe de talento la germinal belleza de este blog,si te va la palabra encadenada, la poesía, te espero en el mio,será un placer,es,
http://ligerodeequipaje1875.blogspot.com/
gracias, buen día, besos trileros..

AlexandraPaixão disse...

Amei, lindo como sempre.