A marca natural da vida, o tempo, já passou e muito desde o dia que deixaste de viver neste mundo. Apesar da tua patologia ser diagnosticada e de hoje em dia haver métodos que prologassem mais os teus dias, tu partiste sem ninguém esperar. Reconheço que a ciência se desenvolveu, contudo não compreendo como é que existem listas enormes de espera para transplantes e só quando acontece o pior, é que se é "chamado". Nunca vou perdoar a medicina. Sinto náuseas e angustia quando entro em hospitais.
De facto é certo, nunca estamos preparados para perder aqueles que mais amamos. Receamos a natureza da vida, os traços do destino. Temos medo de observar num ápice o desvaecer desses seres por entre os dedos. Mas quando a morte se aproxima, ela leva consigo apenas o corpo. No momento inicial e de choque, senti que nada senti, simplesmente senti-me apática. Olhei para ti já quando a tua pele gelava e o teu coração deixará de bater e apenas queria acreditar que tu estavas apenas num sonho, pois aquela realidade eu não queria aceitar. As lágrimas prendiam-se na alma, enquanto o coração chorava por dentro muito escondido.
Hoje, escrevo-te uma vez mais não para te dizer tudo o que tu serás sempre para mim, tu sabê-lo muito bem. Escrevo-te para não pensares que me esqueci de ti, que me esqueci do teu aniversário. Deus e só Deus sabe o que daria para te ter aqui comigo. Congratulávamos esta data especial juntos. Mas o teu corpo já não está aqui, só o teu espírito vai estar sempre dentro de mim.
Escrevo-te de muito longe. Tu sabes onde estou. Agradeço-te por teres colocado este amor no meu caminho. Nunca me senti tão feliz. Gostava tanto que o conhecesses...
Peço-te desculpa por hoje não ter ido ao local da tua "última morada", entregar-te uma rosa branca como faço desde o dia mais crucial e marcante da minha vida. Mas tu sempre valorizaste um gesto, um sorriso. E sei que tornar-me alguém na vida, (o que hoje em dia não é fácil), será o melhor presente que alguma vez te poderia oferecer. Orgulhar-te, é a minha missão imbuída nos meus sonhos.
Não sopramos as velas do teu aniversário. Não te fiz um presente de carácter plástico acompanhado por uma dedicatória tal como fazia quando era pequenina. Mas lembrei-me de ti e dos nossos sorrisos juntos. Lembrei-me que sinto a dor da tua perda, mas não a tua ausência. Sei que estás comigo, esteja eu onde estiver. Olho para o céu e estás lá. Está lá o meu anjo-da-guarda.
Quero-te recordar que sei que já não vives neste mundo tão cruel, pois roubou-te de mim quando eu comecei a dar os primeiros passos na adolescência. Aprendi a viver sem ter-te nos meus dias, mas nunca no meu coração.
A tua ausência é somente física e o que nos une será sempre mais que laços de sangue, são laços do maior carinho que nutri por alguém.
Guardo-te eternamente, padrinho (...)
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